terça-feira, 26 de novembro de 2019

Sobre tatuagens de anime...


    Há alguns dias eu estava no Facebook e vi que a página de um amigo meu publicou um post expondo de forma meio ridícula o que seria o “resumo” de Kimetsu no Yaiba e ironizando a ideia de muitos de que aquele seria o melhor anime existente. Eu deixei um comentário de forma meio despretensiosa, mas o post foi bastante compartilhado e quando me dei conta, eu havia gerado controvérsia com o que disse. Não foi a respeito da qualidade do anime, mas sim uma menção ao fato de que a “doença” (com o perdão do termo) que era o fanatismo popular por esse anime estava tão exagerada que teve gente que mal terminou essa primeira temporada e já foi fazer alguma tatuagem relacionada a ele. Pronto, o circo estava armado.
    Apareceram diversas pessoas revoltadas ou questionando qual seria o problema disso. A maioria só foi ignorante, outras disseram numa boa porque não achavam que era algo intrinsicamente equivocado fazer isso, e eu acabei fazendo uns poucos comentários, mas ao ver que a fanbase do anime (maioria possivelmente adolescente) começou a aparecer em massa pra criticar o post original e alguns começaram a responder meu comentário até desviando o foco e dando a entender que eu estava criticando a qualidade do anime ou cuidando da vida dos outros, eu resolvi desisti e deixei um último comentário com um argumento final e dizendo que quem quisesse me xingar podia, porque eu não iria mais ler nem responder nada (soa como covardia, mas eu apenas preciso evitar tretar na internet pra impedir que certos problemas recentes meus se agravem, longa história). Eu fiquei um tanto surpreso com isso ter gerado alguma controvérsia, já que achei que dificilmente alguém discordaria. Pois bem, eu fiquei com vontade de contar essa história e dissertar um pouco mais sobre a minha opinião. 



    O que eu quis dizer com aquele comentário? Eu quis apontar que o exagero do hype do momento e endeusamento temporário inevitável (enquanto alguns não migrarem pro maior sucesso de alguma das temporadas seguintes) levava alguns fãs a, de forma súbita e sem pensar muito, fazer uma tatuagem relacionada ao anime. Por diversas razões eu considero essa atitude um problema. Se mal acabou a PRIMEIRA TEMPORADA do anime, o hype não esfriou e ainda é bem mais comentado que qualquer anime (completo ou incompleto) do ano, é sinal de que a pessoa ainda está envolvida com a “febre”. Mas e quando a febre acabar? São inúmeros os exemplos de animes que eram exageradamente endeusados e em questão de tempo a maioria dos fanáticos já não queria nem saber (Erased, Death Parade, Re:zero, Darling in the Franxx, entre outros). A “moda” de Kimetsu vai se estender um pouco mais por conta do filme que está próximo, mas o caso é que ninguém pode dizer com segurança, apenas alguns dias após o fim da primeira temporada, que será sempre um dos animes favoritos da pessoa. Ainda mais que muito do gosto por um anime que seja febre do momento é influenciado pela relevância na comunidade e o tanto que se conversa e vê posts sobre. Não é que a pessoa goste “por modinha”, mas a experiência externa influencia muito e prova disso é a escassez exagerada de pessoas que ainda aparenta se importar com algo como Erased, desde algumas semanas após o último episódio, ou postar sobre ele em qualquer lugar. A experiência externa ao anime e o hype da comunidade pode facilmente influenciar o fanatismo momentâneo.
    Pra citar um exemplo pessoal que não tem a ver com “febre”. Há alguns anos eu assisti Elfen Lied e fiquei fascinado. Qualquer coisa que envolvesse crítica à humanidade ou exploração do lado mau do ser humano me parecia brilhante, e eu logo de cara coloquei o anime no meu top de favoritos, onde permaneceu por dois anos. Porém, eu praticamente não pensei nada nele durante esses dois anos, nem revia cenas, apenas ficava a noção de que foi bom apreciar aqueles 13 episódios naquele período de dois ou três dias. Fui rever depois de dois anos apenas para ter embasamento pra debater com alguns amigos de internet que o criticavam, e percebi que ele tinha vários detalhes ridículos ou forçados que eu não percebi direito quando vi pela primeira vez. Ainda aprecio o anime e até vejo graça em alguns de seus defeitos, mas hoje eu tenho minhas dúvidas se sequer o colocaria num top 30, e mesmo quando estava no meu top ele só mofava lá como uma lembrança, não era algo que ocupava minha mente por mais de 5 minutos em qualquer dia que fosse. O que eu quero dizer é que eu terminei o anime tão eufórico que poderia ter passado pela minha cabeça a ideia de fazer alguma tatuagem relacionada a ele, sem saber que ele não seria algo realmente marcante ou que eu teria porque exibir uma alusão a ele no meu braço. Dragon Ball Z e Death Note, ao contrário, seguem sendo alguns dos animes mais marcantes pra mim pelo empurrão que me deram pra me tornar fã de anime e tive altas discussões a respeito com o passar dos anos (ainda recentemente). Só que estes dois, que permaneceram no meu top 5 por anos, hoje estão muito distantes dele. Death Note talvez estivesse lá pela posição 25-30, e DBZ lá pra rabeira de um top 50 já que aprendi a gostar muito mais do DB Clássico. Yu Yu Hakusho se mantém como meu favorito depois de muitos anos, mas ainda assim teria sido um erro eu fazer uma tatuagem assim que assisti, pois poderia acontecer com ele o mesmo que com os outros. Você só pode ter segurança de considerar algo marcante quando ele realmente “fica” de alguma forma. Não quero cagar regra de quanto tempo, mas o caso é que chegaram a responder no meu comentário que se Kimetsu foi marcante pra pessoa não tinha problema, mas é MUITO recente pra alguém poder dizer isso. Grande parte dos apaixonados por este anime com certeza vão gostar mais de algo que sairá ano que vem ou em 2021, e alguns certamente são ex-fãs de coisas como Franxx ou Erased, veem animes semanalmente e estão muito adentrados nessa cultura de hype.
    E o que isso tudo significa? Que a probabilidade da pessoa se arrepender de ter feito a tatuagem é absurda. E as pessoas não param pra pensar no quão problemático é você se arrepender de uma tatuagem. De acordo com o google, o processo de remover com laser custava mais de 6000 reais em 2013, imaginem hoje em dia. Não sei se dá pra tatuar algo por cima, mas mesmo que dê, pensem na dificuldade maior que implicaria e como a pessoa teria que tatuar algo bem específico pra conseguir cobrir ela toda (e de novo: é possível que não dê pra tatuar por cima, não sei). Não me refiro a tatuagem de chiclete que sai com dois banhos, mas uma que a tendência é você envelhecer com ela. Pense no que é a pessoa chegar aos 50 anos com a tatuagem de algo que ela hypou por alguns meses e acabou se distanciando do top dela, ou conheceu vários personagens mais interessantes do que a Nezuko ou sei lá qual outro personagem de Kimetsu no Yaiba ele tenha tatuado. E mesmo que a pessoa tenha muito dinheiro, qual é o sentido de arriscar tanto? Basicamente o que eu quero dar a entender, é que você deve ESPERAR pra fazer uma tatuagem de um anime que gosta, mas que assistiu muito recentemente (ainda mais se só tiver saído uma temporada). Mesmo que quase tudo que eu tenha dito até agora aqui fosse desconsiderado, ainda assim é preciso ter em mente que qualquer pessoa madura concorda que é preciso pensar MUITO antes de tatuar algo. E eu vejo como “intrinsecamente precipitado” em fazer uma tatuagem do anime mais idolatrado do momento, apenas algumas semanas após o fim da primeira temporada. Mesmo que a opção de tatuagem seja bonita e não seja preciso ser fanático pelo anime, ainda assim eu creio que o certo é esperar porque com certeza o “calor do momento” influencia pra que você pense que a opção ideal de tatuagem é essa.
    Outros argumentos na resposta do meu comentário naquele post incluem coisas como “e daí, o anime é foda!”, “a pessoa pode ter lido o mangá pow, o mangá tá rolando”, “o importante é ficar bonita” e “não é você quem paga, pq se incomoda?”. Bem, eu não falei da qualidade do anime. Mesmo que a pessoa leia o mangá, se faz isso há pouquíssimo tempo e se misturou com a onda que foi Kimetsu (ao contrário por exemplo de um amigo meu que era fã de One Punch Man e detestou o câncer que se tornou por conta da fanbase gerada à partir do anime), ainda está sujeita à estar apenas “vivendo o momento”, sem parar pra pensar num possível arrependimento. A ideia de que a pessoa tatue qualquer coisa desde que seja bonita é idiota. Amenos que a pessoa pretenda tatuar grande parte do corpo sem parecer se importar muito com o quê, é de se imaginar que ela quer valorizar o que vai tatuar, e não tatuaria só uma borboleta porque sim ou sei lá. E realmente eu não vou pagar a tatuagem de ninguém, mas eu tampouco vou pagar o tratamento a laser que tem chance de ser feito depois, e tudo que fiz foi um comentário aleatório na página de um amigo, qualquer outro comentário feito lá foi só respondendo outras pessoas, eu só sigo minha vida.
    Antes de fechar o texto, quero só deixar uma versão estendida do meu argumento final. Independente dos sexos, imagine: pessoa X namora pessoa Y há semanas ou alguns meses e acha que vai ser amor pra vida toda, e então resolve tatuar o NOME ou o rosto da pessoa. Já teve diversas reportagens na TV sobre gente que fez isso e foi furada, por terem terminado posteriormente. Claro, algumas dessas pessoas que fazem a tatuagem (e aqui me refiro tanto à do anime quanto da pessoa amada) podem vir a realmente ter uma relação eterna com a figura homenageada, mas isso não muda o fato de ter sido um ato precipitado e que tinha uma boa chance de gerar arrependimento futuro. Claro, a probabilidade de arrependimento talvez sempre existe independente do que se tatue, mas o que quero dizer é que em casos como esses que meu texto trata, a probabilidade é múltiplas vezes maior que o normal.
    Pra finalizar, eu apenas espero que você que leu esse post tire algo dele ou reflita, podendo discordar se quiser. A mensagem é basicamente que, se possível, você ESPERE a febre do “anime do momento” baixar antes de marcar no seu corpo uma homenagem a ele, e que pense BEM antes de fazer qualquer tatuagem que seja e no significado dela, pois se arrepender depois pode ser problemático. Eu não vou dizer quanto tempo ou quantas vezes deves pensar se vai ou não tatuar algo, pois a escolha é sua, e não vejo nada de intrometido da minha parte recomendar que a faça com consciência e não de forma “intrinsicamente precipitada”. Não tenho nada contra tatuagens de anime, e apesar de não pretender fazer nenhuma pelas minhas próprias razões, compreendo a vontade de fazer. Apenas me preocupo que a popularização das tatuagens no século atual (já que era bem mais discriminada no passado) multiplique os casos de arrependimento, já que para muitos jovens, tatuagem é sinônimo de “cool”, e acabam fazendo sem pensar muito. Não se esqueça que é importante conseguir se ver com ela quando ainda estiver velhinho. Se conseguir, seja feliz! ^^
    
E assim me despeço. Oh revouir o/

2 comentários:

  1. Eu concordo, é bem impulsivo fazer uma tatuagem de algo que hoje em dia nem mesmo é relevante, e que pior, muito desse hype veio apenas pelas "Pretty Colors" e não realmente momentos marcantes. Isso vai envelhecer muito mal, é tragédia anunciada.

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    1. Fora que é grande a porcentagem de pessoas que chega a se arrepender da tatuagem que fez. Ressaltar que tem que pensar muito antes de tatuar algo ter gerado controvérsia realmente me surpreendeu.

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