Olá! Sentiram minha falta? Claro que não, dificilmente
alguém sente. Bem, depois de mais de um ano resolvi lançar outro post no blog,
apenas para documentar publicamente alguns dos meus pensamentos sobre um tema
específico. Não prometo periodicidade alguma, até porque não é como se eu
tivesse uma fanbase para decepcionar. De forma acidental, transformei a frase
anterior num bom gancho para o que quero trazer.
Animes possuem suas respectivas fanbases, e os fãs tem suas
opiniões e desejos individuais em relação às obras que admiram, mas alguns
desses desejos ou opiniões são compartilhados por uma grande parte deles, e é
por conta disso que determinadas coisas se tornam grandes sucessos comerciais:
por dar aos fãs o que eles querem. Mas os fãs, que normalmente reagem de forma
emocional ao que consomem, nem sempre se importam muito com o que seria melhor
em termos de qualidade. Pior: muitos confundem o lado comercial ou o “apelo ao
público” com qualidade. Por conta disso constantemente veremos fãs defenderem
algo como bom porque vende muito, porque rendeu dinheiro, porque é muito
popular, porque tem boas notas em determinados sites, etc. Eles não têm noção
da diferença entre o entretenimento e a qualidade objetiva de algo. Mas não
vejo necessidade de explicar isso porque suponho que qualquer um que não tenha
desistido de ler qualquer coisa deste blog em poucas frases já teve ter alguma
noção. O que eu quero é ilustrar o fato de que muitas vontades dos fãs
trabalham contra o que as obras propõe, ou prejudicam a qualidade das mesmas.
Meus primeiros pensamentos a respeito disso devem datar de
pelo menos 5 anos atrás. Dragon Ball Z ainda era um grande sucesso e estava até
começando a lançar novos filmes, e eu estava me entrosando com a fanbase de
Dragon Ball nessa época, discordando de algumas opiniões comuns. Uma das coisas
que mais se ouvia na época era a velha reclamação sobre o Gohan não ter se
tornado um guerreiro fascinado por lutas como o pai, preferindo estudar e levar
uma vida tranquila, sem treinar desnecessariamente enquanto não vê qualquer
sinal de perigo ameaçando o mundo. Eu desde aquela época não conseguia compreender
o problema das pessoas com isso, já que SEMPRE foi claro que Gohan não era como
o pai (que era mais afetado pelos instintos de saiyajin, por ser um saiyajin
puro). Gohan foi criado em meio ao estudo e aprendeu a gostar disso. Os
desentendimentos com a mãe vinham do fato dela não entender a necessidade de
treinar quando era nítido que era preciso, e a decisão de Gohan de lutar
seriamente contra Cell após o discurso do Andróide 16 claramente se referia a
necessidade do momento, mas não era como o Goku virando SSJ1 (com seu apego
pelo combate transbordando), Gohan apenas entendeu que teria que lutar quando
necessário, mas isso nunca significou treinar sem haver ameaça ou gostar mais
de lutar do que estudar, pois isso iria contra a caracterização e construção do
personagem. Parte do que mancha a fama de Dragon Ball é os fãs se preocuparem
mais com a pura ação do que com a lógica. Não que lógica seja o forte dessa
franquia, mas se não fosse pelas vontades dos fãs e pressão dos editores da
Jump, a obra não teria se estendido tanto e haveria mais coerência em certos
pontos. Mas independente da saga em que Dragon Ball acabasse, Gohan ainda seria mais ou menos o mesmo nesse sentido. Mas é apenas um de muitos exemplos de como a vontade dos fãs vai contra a coerência muitas vezes.
E aqui já entramos no lado da longevidade. Por mais que seja
bom One Piece ter uma diversidade de temas abordados, é mesmo positivo ter
tantas sagas, e com TANTOS detalhes repetidos, apenas pra isso, e por que o
mangá vende? Tendo sido pensado para durar apenas poucos anos? Não seria melhor
de repente o anime do Pokémon ser como o mangá e ter um protagonista diferente
pra cada região? Minha crença do começo de Pokémon ser a melhor parte do anime
vai além da nostalgia, é porque uma boa história costuma ter começo/meio/fim,
enquanto Pokémon, mesmo que um dia acabe, só terá tido realmente um começo
planejado, e que carregou consigo a responsabilidade de tornar o anime
atraente. Dragon Ball há décadas já havia se estendido além do que o autor
quis, e recentemente com os filmes e o Super, gerou mais incoerências e retcons
(quando a continuidade é alterada e/ou contradiz coisas de antes), apenas para
agradar os fãs. Eu consigo compreender parcialmente aquele gostinho de “quero
mais” que uma obra deixa quando você se apega a ela, mas aí que eu entro no que
diz no título.
Eu sempre vejo pessoas desejando que os animes que gostam
tenham continuação. Só que alguns animes são criados para chegar a algum ponto.
Alguma conclusão na trama, abordar certos temas ou alguma filosofia específica,
e dar um ponto final quando o objetivo foi cumprido. Tem exemplos como
Kiseijuu, que eu chego a me sentir pessoalmente ofendido só de ver alguém dizer
que gostaria que tivesse uma segunda temporada. O que eu quero dizer é que
todos que desejam uma continuação de algo, devem se fazer uma pergunta: “Por
que isso deveria ter uma continuação?”. Eu sinto que na maioria das vezes as
pessoas apenas querem ver os personagens mais tempo em tela independente do que
estejam fazendo, ou ver mais vezes aqueles mesmos cenários e quem sabe
referências a eventos anteriores (“apelo à nostalgia” de forma geral). Eu só
acho que é importante as coisas terem propósito sempre. Será que continuar algo
que queria chegar a certo ponto, como talvez passar alguma mensagem, não
poderia ser estragado por uma continuação? Não há um risco grande do autor ser
inconsistente quanto à personalidade de seus personagens, dando a impressão de
que parte do desenvolvimento passado foi perdido só para que se contasse mais
história? Eu costumava ter duas ideias do que consideraria boas continuações
para Yu Yu Hakusho (meu anime favorito). Há pouco tempo descartei ambas porque
conclui que eram ideias estúpidas que criariam histórias sem propósito. Vale a
pena continuar algo apenas para lucrar mais, ou para os fãs ficarem felizes por
verem os personagens mais tempo em tela e mais ação (sendo que ação tem em
vários animes e seria só procurá-los, lol)?
Faz sentido que muitas franquias continuem lançando coisas.
Jojo e Gundam por exemplo variam bastante e podem contar diferentes tipos de
história em seus respectivos universos (no mesmo ou em paralelos) com
diferentes personagens e diferentes tramas, não prejudicando muito o que houve
anteriormente. Alguns animes realmente poderiam ter mais exploração do mundo em
que se passam ou quem sabe certos buracos possam ser tapados. Imagine quantos
fãs de CDZ que só se interessam pelos animes passariam a eternidade pensando
que os cavaleiros poderiam simplesmente ter passado pelo lado ou por cima das
casas zodiacais, sem serem expostos à explicação dada nos OVA’s de Hades sobre
porque não é possível fazer isso. Sim, eu sei que essa saga está no mangá, mas a série dos anos 80 dá a impressão de que tudo poderia acabar ali mesmo em Poseidon.
Sem me estender mais tanto, eu só quero dizer que é
importante mentalizar um propósito lógico quando você quer que algo aconteça. Não
simplesmente querer ver personagens mais tempo em tela independente do que
estiver acontecendo, ou apenas piorar a imagem da franquia que admira com uma
nova temporada sendo basicamente um fanservice e que privilegia coisas
negativas. Dragon Ball está se tornando uma piada na comunidade de fãs de anime
por várias coisas que o Super fez, e assim cada vez mais os haters cometem
falácias contra o conjunto completo de temporadas (algumas das quais pretendo
rebater num post futuro). Alguns podem achar que estou apenas sendo chato e que
o importante é divertir os fãs mesmo, independente de qualquer coisa. Bem, eu
não sou um fã irracional, mas também não sou um elitista chato. Anime não é
apenas entretenimento, é também arte, e como arte é preciso se importar com o
que quer ser passado, e com a qualidade. Mas é claro que o lado do simples
entretenimento também é importante, só que se importar apenas com ele, defender
o fanservice e a “comercialidade” acima da qualidade, implica que você não se
importa com a qualidade ou que o que você gosta seja bem visto. E é claro
que não generalizo e reconheço que algumas continuações ou spin-offs podem ser
divertidos e não comprometer a qualidade do original. Assim como coisas episódicas ou de propósitos muito simples possivelmente não seriam afetados por algo assim.
É importante também lembrar de nunca
associar a diversidade de produtos de uma franquia como indício de qualidade.
Algumas pessoas colocam Dragon Ball e Saint Seiya como alguns dos ápices da
qualidade de shounen ou de sucesso, pelo simples fato de terem diversas
continuações, spin-offs, side-stories e etc, e diminuindo coisas como Yu Yu
Hakusho por não terem. Yu Yu Hakusho quis chegar num ponto e chegou, ele não
iria continuar independente do autor ter ou não começado outras obras como
Hunter x Hunter ou poder ter hiatos. E Yu Yu Hakusho também nunca teve um
universo vasto que torne muito plausível isso, já que grande parte da obra é
mais sobre seus personagens principais em lugar de tramas de proporções grandes demais. Criar histórias mostrando
acontecimentos de outras épocas do Makai, ou mostrar de forma detalhada acontecimentos
da vida de alguns personagens seria algo sem propósito e que não enriqueceria
muito a forma como vemos o anime clássico no geral. E o autor tampouco quis que
outros fizessem pra ele essas histórias paralelas apenas pelo lucro tal como
Kurumada com Saint Seiya (lembrando que não estou negando que algumas delas sejam melhores que a original). Togashi consegue compactar bem o artístico e o divertido numa obra individual, e provavelmente acharia
sem sentido o desejo de tantas pessoas por mais. Ou talvez não tanto, já que autorizou dois filmes de Hunter x Hunter e um capítulo especial do Hisoka feito pelo autor de Tokyo Ghoul, mas é pouca coisa. E sei que tem esses recentes OVA’s de Yu Yu Hakusho, mas eles são de duas partes do mangá que
não foram animadas e são um bônus comemorativo apenas. Não ter um monte de
coisa paralelas está longe de ser um demérito, na maioria das vezes é uma qualidade. E qualidade é algo à parte do sucesso, do lucro, e do entretenimento descompromissado. Não que Togashi já tenha feito algum trabalho realmente PERFEITO, mas vocês entenderam. E não é que você precise ficar inconformado com qualquer continuação ou novidade de alguma franquia que você goste, apenas sugiro não desejar algo sem um bom propósito narrativo ou artístico e nem deixar seu lado fanático se sobrepôr completamente ao crítico. Isso vale também para filmes, seriados, etc.
E assim me despeço, crendo que algum dia irei reler tudo
isso e sentir que poderia ter escrito de forma diferente ou quem sabe adicionar
mais exemplos e dissertações, mas por ora estou satisfeito. Se alguém quiser aprofundar mais a reflexão de algumas partes do texto, recomendo um vídeo do canal VideoQuest chamado "Pra quê servem os ova's de Yu Yu Hakusho? (review)", não concordo com a resposta para o título do vídeo, mas o importante é o que cerca isso. Bem, um abraço para a
dúzia de pessoas que for ler este texto em algum momento de suas vidas e até a próxima!
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